Por que fui passar o Carnaval em Chaves, na Ilha de Marajó?

Serviço voluntário em Chaves, na Ilha de Marajó (PA)

27 fevereiro 2024

Um ano depois de experimentar de um Carnaval diferente em Sobral (CE), Kaline Aureliano optou por prestar serviço voluntário em Chaves, na Ilha de Marajó (PA). A seguir, confira seu testemunho:

Eu me chamo Kaline Aureliano, tenho 27 anos, sou sobralense e apaixonada por Deus. Irei brevemente contar um pouco do meu testemunho e sobre nossa tão amada Ilha de Marajó.

Eu já conhecia a Comunidade Shalom, através de amigos que participaram e/ou participam, mas eu não frequentava pois não gostava, não me atraia, na verdade, as coisas do mundo me atraiam bem mais do que viver as coisas do Senhor. Vivi muito tempo prazeres e amores passageiros, confiando e acreditando que sem Deus eu iria conseguir, vivia de ilusões, inclusive tem uma música que se encaixa bem nessa fase:      

Tudo o que eu vivi, todos os amores  
Terras que pisei, amigos que ganhei
Não, nada é melhor
Não, nada me falta
Eu encontrei meu Cristo” (Vocal Livre – Tudo o que vivi)

Um carnaval diferente em 2023 

Em fevereiro de 2023, há um ano atrás, Deus me chamou novamente para me entregar somente a ele, ser inteiramente Dele, sou fruto do Renascer em Sobral (CE). Nem eu imaginaria que seria outra pessoa. Depois do dia 21 de fevereiro, dia da efusão, lembro como se fosse hoje, muita gente meio que aperreado, ajeitando todo o momento e muitos falando que era um momento importante, e eu sem entender nada, só fui fazendo o que estavam pedindo, sai de lá sentindo nada, creio eu que esperava algo já de imediato, pois alguém me disse que é muito forte.

Meu processo de conversão foi dia após dia, igual a parábola do semeador, ele passou por mim, jogou sua semente e acredito eu que meu solo fértil, comecei a gerar frutos. Fui me aproximando da Comunidade Shalom de Sobral igual as crianças de Chaves, com o dedo na boca e encostada nos cantos da parede com vergonha, mas com vontade de descobrir o amor, ser amada e poder amar.

Kaline Aureliano (a quarta da esquerda para a direita), serviu no Renascer em Chaves (PA) um ano depois de participar do evento em Sobral (CE).

Com o tempo, meu coração começou uma inquietação, um anseio de partir em missão, porém, recém chegada, apenas obra e ir em missão era pra mim como um sonho bem distante, acreditava eu que só a Comunidade de Vida seria capaz disso, mas como nada para Deus é impossível e a vontade d’Ele era igual a minha  e ele ia me mostrando que não só a CV é capaz de viver em missão. No Acamp’s,  de julho de 2023, ele foi bem claro que eu iria em missão, mas ainda não sabia para onde e eu só sabia chorar na capela de alegria, uma felicidade tão grande que eu não sei explicar.

“Tudo me apontava para esta terra abençoada”

Mal tive tempo de digerir o que vivi no Acamp’s, saiu o edital para a expedição de Chaves, minha pastora e acompanhadora de grupo de oração, Jamile Alcântara, me mandou o edital, eu li e reli aquele edital inúmeras vezes, estava já decorando tudo que continha nele, para mim ainda se tornava distante, trabalho, questão financeira e medo, este ultimo me impediu até dois dias antes da inscrição encerrar fazer minha inscrição. Lá no edital comentava que era preciso fazer uma seleção e dai em diante eu desisti, pois pra mim sempre há alguém melhor e que poderia preencher as vagas e eu ainda não estava preparada para o NÃO, eu não acreditava nem em mim mesmo e nem em Deus.

Em um determinado dia, após reler novamente o edital, mandei mensagem para a Socorrinha Mouta, uma missionária que havia chegado há alguns meses de missão em Chaves, perguntando sobre o município e sobre a seleção, pois como falei, a seleção me deixava aflita, porém, ela só me respondeu meia noite.

Neste intervalo de tempo sem resposta, um irmão pediu para eu rezar com a parábola do semeador e eu rezei, como Socorrinha me respondeu de madrugada, só vi sua resposta ao acordar e descobri que está passagem marca a identidade da Missão da Comunidade Católica Shalom de Chaves.

O Senhor me chamava todos os dias e eu ainda lutava contra ele e poucos dias depois esta mesma irmã foi ao meu grupo e comentou sobre sua experiência de voluntariado em Chaves. Tudo isso me apontava para esta terra abençoada.

>> Saiba mais sobre a Comunidade Shalom de Chaves

Também outra irmã da Comunidade Noor, discípula da Comunidade de Vida em Sobral (CE), foi muito importante para mim neste período, ela acreditou muito em mim, me incentivou, intercedeu por mim e só sei ser grata, ela sempre falava comigo sobre a expedição com os olhos brilhando de felicidade.

Outubro, mês missionário, recebi a resposta e sim, eu iria a Chaves. Agora, como? Não sabia.

Do dia da resposta até chegar em Chaves vivi muitas batalhas, mas quem não? Não posso esquecer da minha amiga e intercessora Nossa Senhora de Nazaré, eu nem a conhecia e ela apareceu em um sonho e fui pesquisar sobre ela, eu fiquei tão impressionada ao ler, pois ela também me queria por Chaves, descobri que ela é bem forte no Norte e ela não saiu e nem sai de perto de mim até hoje, minha amiga Nazinha.

Experiência de sair da zona de conforto 

Dia 02 de fevereiro cheguei em Chaves, na terra que cura, que é realmente uma UTI, Deus fala conosco por todos os lados e ao chegar nesta missão, recebi está passagem Mt 19-21 “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”, nem eu sabia ao certo o que estava fazendo lá, eu não sou da área da saúde, não sei cantar e nem tocar, mas Deus foi me tirando de si, foi fazendo eu sair da minha zona de conforto, para poder ofertar e dar o meu melhor para aqueles jovens, as minhas crianças e aos pobres.

“Eu precisei deles”

 Eu acreditei que o meu povo, estava precisando de mim, mas como sempre me engano, eu me enganei, eu que precisei deles, precisei do sorriso, dos abraços, das partilhas, eu precisei me abandonar, aumentar cada vez minha fé, tive que ser forte, tirar minhas forças. Todos os dias era um aprendizado, uma lição e respostas de muitas súplicas, tanto nossos voluntários como do povo de Chaves, que espera tanto por nós.  E, lembro que em um momento de evangelização, Gilson falou “precisamos de voluntários”, isso ate hoje soa forte em mim, neste dia a noite eu só sabia chorar pois como iria ajudar meu povo, se sou só um pequeno grão de areia.

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Dia 10 de fevereiro, boa parte dos meus colegas voluntários foram para o hospital, uns em casa se recuperando, uma chuva, e neste dia pela manhã fizemos algo diferente, fizemos louvor, adoração, parece ser algo normal, mas para mim aquele dia, aquela manhã, foi mais uma resposta Dele, pois ver os meus irmão doentes e um doente cuidando do outro, tendo que segurar as pontas e ser fortes por todos, doar mais e mais, os que estavam doente se recuperando tão rápido para ofertar sua vida e seus dons, que a missão deles era maior que qualquer doença, batalha e enfim.

Como eu comentei acima, que é uma terra que cura e é real, Deus mostrou com toda claridade a minha ferida e que eu precisava retornar para curar e depois curar os filhos Dele. E sou grata por Deus teres nos escolhidos, pela obra nova que está fazendo na minha vida e de todos aqueles que estavam comigo.

Chamado a doar a vida 

Por fim, Deus me chama para suas águas mais profundas e cuidar dos d’Ele, pois deseja que meu testemunho alcance muitas pessoas, que lance sementes no coração de muitos e que estes possam dar seu SIM, assim como eu dei.

Deus, nosso pai, não esquece dos filhos prediletos d’Ele, por isso meus colegas, sejam voluntarios, se does, se ofertes pelo seu irmão, toquem a face do nosso Criador por meio das crianças, dos jovens, dos pobres, na simplicidade, na humildade e amor que os Chavienses transmitem.

Eu só sei agradecer pelo chamado, por ter sido tão acolhida e tão amada por eles. Um amor tão grande e inexplicável.

Obrigada, Chaves, jamais te esquecerei.

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